sábado, 3 de fevereiro de 2018

Nas cinzas me refaço

       A vida tem me transformado num pássaro, contudo, não é um que brilha e que voa sobre os ares. Mas um que caleja, um que está machucado e não consegue voar como uma bela águia. As circunstâncias tentam me fazer cair do céu, e eu diria que, na cadeia alimentar, elas são os animais que me devoram.   
     No entanto, eu já fui comido, porém me vomitaram, pois não conseguiram me digerir. Não deram conta de me engolir e por isso, eu renasci. Mas ainda assim há outros animais, outros que tentarão me devorar, mastigarão-me com seu dentes, com bastante ardor e sem um pingo de piedade.
     As minhas asas pedem pra parar de bater. Apesar disso, eu, como um pássaro insistente, tento continuar voando, mesmo com pedras sendo atiradas em mim, mesmo com toda a confiança que é depositada em um pássaro cinzento: uma ave forte, sombria e distante dos outros animais. Mas que sobretudo se destaca em relação a sua força. Confesso que, no início, achei que voar era algo estável, porém eu estava errado: o voo é totalmente instável. Raras são as aves que nunca caem. Infelizmente, não sou uma delas. E é por isso que me considero um pássaro cinzento, pois fui abatido inúmeras vezes: preso, machucado e esmagado. Entretanto, jamais desistirei de voltar para o céu.
    -Sim, eu posso alçar voo mais uma vez.










                                                                                        Nas cinzas me refaço.

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